Se um empreendedor digital fosse seu próprio chefe pouco importaria as mudanças do instagram, ele faria o que bem quisesse.
Mas em prol de ver o seu negócio digital bem sucedido, o empreendedor digital tem que se adaptar as regras, horários e ritmo do instagram, seja qual for, então será que somos nossos próprios chefes?
Se de repente o Instagram decidir abolir de vez a postagem de fotos e virar uma rede social só de vídeo, tenho certeza que nenhum empreendedor digital vai fazer uma "greve" ou deixar de se adaptar a isso.
Veja bem, o que eu critico não são os trabalhadores, o que eu critico é a falta de crítica do universo de venda de cursos de empreendedorismo.
O que critico é uma ideologia empreendedora que muitas vezes não questiona o próprio ofício e as partes ruins desse caminho.
Toda essa ideologia repetida pelos perfis que vendem cursos de empreendedorismo digital fala de como trabalhar em empregos formais é coisa do passado e uma prisão infernal.
E pouca gente fala dos burnouts (esgotamento) que tantos profissionais neoliberais passam. Inclusive chegar a um esgotamento de tanto trabalhar parece ser tão comum em criadores de conteúdo e empreendedores digitais que chega a ser uma etapa natural do percurso.
Entenda, não estou criticando nenhum empreendedor porque eu mesma empreendo também com a venda dos meus livros e de oficinas. Ninguém tá sendo vilão por empreender, e, claro, é uma alternativa para muita gente que não quer trabalhar com carteira assinada, ou até mesmo não encontra brechas para entrar no mercado formal.
É uma alternativa que brilha como sendo algo de plena liberdade de tempo e livre de hierarquias quando em grande parte a experiência das pessoas é com chefes abusivos e horários de trabalho esgotantes. Mas não quer dizer que é uma alternativa sem muitos pontos ruins e mais que isso, é uma alternativa ainda dentro do capitalismo.
E eu realmente não sei o que é pior, contar os minutos para acabar o expediente e poder ir à praia depois do trabalho
ou
o discurso de que trabalhar na praia é o ápice da liberdade.
Você tá na praia!
Era pra tu tá tranquila e relaxada, mas tu tá trabalhando, é outro corpo ali, não um corpo de relaxamento e liberdade é um corpo de trabalho, por mais prazeroso que seja esse trabalho empreendedor.
É bem triste muitas vezes acordar não querendo ir pro trabalho porque não era o trabalho que você sonhava, é triste contar as semanas pra chegar as férias porque parece como se as horas de trabalho fossem tão insuportáveis que só vale a pena viver quando não estamos no trabalho.
Mas também é muito exaustivo a ideia de você não conseguir ter hora certa de parar de trabalhar e sentir culpa quando não tá produzindo.
Pouco se fala de como você nunca tira férias de fato, porque ficar um mês sem postar é impensável a não ser que você já deixe postagens programadas ou que seja um perfil tão grande que perder seguidores não vai fazer diferença.
E que seu lazer ou momentos de descanso também são trabalho porque você tem que tirar algum conteúdo "humanizado" disso. E que assim o trabalho vai tá tão infiltrado na sua vida que tudo que você tiver fazendo vai te fazer lembrar de criar conteúdo sobre isso, ou seja, em trabalho, até quando você tiver sonhando.
E isso faz você sonhar com trabalho (conteúdo), dormir pensando em trabalho e acordar já trabalhando (já que virou moda gravar a rotina matinal nos stories, inclusive eu mesma faço ou acordo pensando que tenho que fazer).
Então no mínimo, o nosso tempo e nosso chefe é regido por esse sistema que só se sustenta numa sociedade desigual.
E assim como milhares de pessoas, aprender a vender na internet me "salvou" na pandemia. Mas se empreender no digital surge como uma alternativa desesperada, será que ao invés de ver isso apenas como o grande salvador da pátria, a gente não pode ser um pouquinho crítico com relação ao mundo que criou essa alternativa?
Minha opinião é que os "cursos" deveriam existir dos dois lados. Deveria existir tanto quem "ensina" a criar conteúdo como quem "ensina" a consumir conteúdo. Os aplicativos não deveriam decidir ambos, não deveriam ter tanto poder assim. O aplicativo é basicamente tudo: a vitrine, o outdoor, o canal onde passa a propaganda, etc. E como tudo no capitalismo as perguntas são inconclusivas. Nós determinamos o mercado, ou o mercado nos determina? Produto é o que viraliza, ou viraliza aquilo que as tendências determinam que vai viralizar? É como eu falei pra um amigo meu: é mais provável que a gente vai curtir um tuíte que tem dez mil curtidas do que um tuíte que é engraçado. A rede social é insustentável porque estabelece metas infinitas porque se a gente entende a regra e se estabelece não importa qual a rede social. E mais importante ainda, a rede social nunca vai se estabelecer enquanto uma forma viável e boa de lucro pessoal porque quem consome o conteúdo não está perdendo dinheiro. Não existe risco pra quem consome, só pra quem cria. No fim quem consome a rede social é quem cria, quem coloca dinheiro é pra girar anúncios pra vender curso. Então o dinheiro que eu vou receber enquanto criador de conteúdo nunca vai vir da rede social, sempre vai vir das pessoas reais que eu posso encontrar na rua, negociar na rua, vender meu livro pra elas na rua. A rede social é um mau negócio e só serve pra eu ter uma presença maior, pra eu poder ser encontrado: um cartão de visitas super otimizado, um portfólio. É isso que é a minha rede social profissional, só isso. Um perfil do linkedin que funciona. Enfim, falei demais. hahaha